Igor Lima de Mello

Os serviços vêm se destacando como o motor da atividade econômica em 2022, mas sinaliza perda de fôlego na segunda metade do ano. Em novembro de 2022, o volume de receitas geradas pelo setor manteve-se estável em relação a outubro, segundo dados da PMS do IBGE.

A atividade no turismo foi afetada pelas condições econômicas menos favoráveis, como os reajustes significativos de preços, por exemplo, das passagens aéreas, que fecharam 2022 com alta de 23,5%.

Apesar disso, as expectativas são favoráveis para 2023, principalmente pela demanda reprimida pelo entretenimento fora de casa, e a maior quantidade de feriados, fenômeno favorável à geração de receitas para o turismo. A CNC estima que cada feriado ou ponto facultativo prolongado tende a injetar 2,1% no volume anual de receitas do setor.

No varejo, a PMC também mostra interrupção no avanço nas vendas, o que se insere em um contexto de reaceleração da inflação após sequência de deflações ao longo do terceiro trimestre do ano passado. O IPCA voltou a registrar alta em novembro (+0,41%), após avanço de 0,59% em outubro.

Outro fator que contribui para a desaceleração do consumo é o endividamento das famílias. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), apurada pela CNC, mostrou recorde no total de endividados no ano passado, nas duas faixas de renda pesquisadas. Em 2022, 77,9% das famílias no País contraíram dívidas nas principais modalidades, principalmente cartão de crédito.

A queda dos juros para nível abaixo de dois dígitos em 2018 estimulou o uso do crédito e, consequentemente, o maior endividamento entre os brasileiros. No entanto, o rápido aumento dos juros entre 2020 e 2022 não inibiu esse estímulo, coincidindo com aumento de 14,3 pontos na proporção total de endividados no País.  

O avanço no endividamento pós-pandemia é explicado por três motivos: entre as famílias mais pobres, o crédito foi fundamental para recomposição da renda e suporte ao consumo de itens de primeira necessidade, diante dos efeitos perversos da crise sanitária sobre o emprego formal e informal e da alta rápida e intensa da inflação.

Entre as famílias mais ricas, a retomada do consumo reprimido nos tempos de lockdown levou a mais contrações de dívidas por este grupo. E, para todos os consumidores, as inovações tecnológicas nos serviços financeiros incentivaram o uso do crédito na aquisição de bens e serviços de forma geral.

O esfriamento do consumo no final do ano passado fez o otimismo dos varejistas cair em janeiro. O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), também da CNC, teve redução em todos os indicadores da pesquisa, levando a confiança dos comerciantes ao menor nível desde abril de 2022 (119 pontos).

Já na Intenção de Consumo das Famílias (ICF), apurada mensalmente pela CNC, os entrevistados enxergam melhora no padrão de consumo, principalmente pela melhor avaliação sobre a renda e com perspectivas de consumo à frente mais altas. A inflação geral mais contida, mesmo em tendência de alta, tem beneficiado a renda disponível mesmo com o maior endividamento das famílias.

Vale notar que o principal programa de transferência de renda do governo passou a pagar, a partir deste ano, o valor mínimo de R$ 600,00 aos beneficiários, além de R$ 150,00 por criança até 6 anos, injetando mais recursos no orçamento dessas famílias e incentivando o consumo.

A grande expectativa para fevereiro é o feriado de carnaval, que deverá movimentar R$ 8,18 bilhões em receitas. As atividades econômicas tradicionalmente envolvidas com o principal evento do setor turístico devem alcançar volume financeiro 26,9% maior que no ano passado. Com a maior demanda por serviços turísticos na data sazonal, as empresas devem gerar cerca de 24,6 mil vagas temporárias.